Sobre Plaquetas de Identificação e Objetivos.
2025-11-10 (updated: 2025-11-10 )

A caminhada da minha casa para a faculdade — a volta um pouco mais que a ida — é um tanto demorada. Mesmo nos melhores dias, flutuando dependendo do itinerário disponível, não chega a ser menos que 50 minutos. Talvez nem seja tão demorado, mas é o suficiente para me fazer desejar não ir de casa para a faculdade, e também revirar os olhos ao lembrar que já vou ter que passar pela versão piorada do mesmo trajeto que fiz mais cedo.
O ônibus e o Sol cansam de um jeito bem especial. Não é um cansaço de trabalho braçal, é algo mais leve; é apenas um cansaço que consegue tornar as minhas tardes e noites mais difíceis — o suficiente para adiar quereres, tarefas e projetos ainda não começados. Tudo isso parece até proposital, como um plano maléfico de todos aqueles que investem na precarização dos serviços públicos para incomodar a população. “Se ao menos toda a frota tivesse ar-condicionado…”

Quero dizer, essa era a situação antes de eu decidir substituir o meu último método de transporte — um micro-ônibus que (talvez por ódio aos alunos) sempre parece errar o horário dos metrôs1 — pelos meus próprios pés. Nem sempre gostei de caminhar, mas o trajeto de ida e volta pela linha reta da avenida parece certo. Além de não depender da carroça da faculdade, de quebra ainda ganho alguns 40~60 minutos (somando ida e volta) de caminhada todos os dias! Não faço todo dia, mas quase todo dia que faço é um dia bom.
Numa ida ou vinda qualquer, no meio do lixo que permeia a calçada, encontrei uma pequena plaquinha. Essa plaquinha era bege-alaranjada e tinha uma qualidade totalmente diferente das outras sacolas, embalagens e caixas de papelão, parecendo brilhar em meio à grama. Como qualquer bom coletor (de relíquias com coração de bibliotecário-arquivador), coloquei a pequena plaquinha no meu bolso e segui caminho. Daqui em diante, eu descobri meu novo passatempo: coletar plaquetas de identificação de cabo óptico!
Plaquetas de Identificação de Cabo Óptico
São pequenas placas retangulares identificadoras, feitas de algum plástico barato, que são amarradas a postes. Normalmente possuem o nome da empresa2 e outras informações bacanas (sei que existem plaquetas do mesmo formato para outros tipos de cabos, mas meu ramo são plaquetas identificadoras de cabo óptico). Essas plaquetas estão em todo lugar na avenida! Na verdade, em quase todo lugar: a possibilidade de você, agora, sair de casa e olhar para o poste mais próximo e ver várias destas é bem alta.

Você provavelmente deve estar se perguntando: “Mas, maripasa, por que tem tantas no seu percurso para o metrô e tão poucas nas ruas do meu quarteirão?” E eu posso responder apenas com “não sei”. Na verdade, eu primeiro lhe corrigiria: não tem “tantas” mais. Eu coletei todas as placas (ou 99.9999% delas) que haviam em excesso no trajeto. Você presumir que ainda pode encontrar, sem minhas habilidades, tais plaquetas soa como um insulto. O certo é: “Mas, maripasa, por que existiam tantas no seu percurso para o metrô e tão poucas nas ruas do meu quarteirão?” Com isso já debatido, tenho apenas hipóteses:
Talvez as condições atmosféricas do bairro de Maracanaú, em que os postes estão, não sejam propícias (o Sol é com certeza mais próximo da Terra em Maracanaú) para as plaquetas ficarem no seu devido lugar (no poste);
Talvez por existir uma coleta de lixo muito menor na avenida;
Talvez exista uma pequena, mas abrangente comunidade de coletores de Plaquetas de Identificação de Cabos Ópticos — esses de tradição e técnicas que, mesmo reconhecendo minhas capacidades, vastamente excedem minha velocidade de coleção. Com sua sociedade gentil, terrivelmente eficiente e, ainda assim, totalmente fraterna — perfeitamente perfeita — esses invisíveis coletores devem ser os responsáveis pela escassez que vemos nas cidades. Devo me juntar a eles e representá-los na avenida.
Talvez o roubo de fios seja alto na região, o que não seria o único indicador diferente em comparação aos territórios adjacentes. Afinal, mesmo não sabendo se há correlação, a população de cartões de crédito cortados, com seus chips arrancados e jogados na avenida, já passa de cinco.
Curiosidade: as plaquetas fazem um som muito gostoso quando são manejadas em quantidade (abaixo do som de fichas de pôquer, mas ainda bom):
Meet the Team
Aqui está minha coleção (até hoje — posso ter esquecido algum, ou posso já ter conseguido novos):

Uma por uma, não ordenadas por importância:
1. VipNet
Um dos primeiros, senão o primeiro, que encontrei. Essa plaqueta lutou muito para ficar onde estava; me sinto até mal de chamá-la de “plaqueta” — sua fúria a torna “placa”. Além da marca semicircular causada pelo movimento repetitivo que as correntes de vento devem promover a cada hora, e da mordida que — provavelmente não causada por algum calango, e sim por causa do estresse dos seus fios — essa placa tem centenas de microfraturas, lhe dando um aspecto muito caseiro. Os buracos para o arame parecem até ter sido feitos com uma faca.

2. Vivo
Posso não lembrar qual foi a primeira plaqueta, mas tenho certeza de que essa foi a segunda! Tem algo muito lindo na simplicidade rica dessa plaqueta: sua textura é até lisa, quase macia! O relevo do texto é de praticamente um milímetro, o que é muito maior que a média das outras plaquetas. Junto ao mistério que o “Opção 9” traz — que sei que nunca vou saber o significado — faz com que essa plaqueta tenha uma beleza única.

Obrigado, Vivo, por manter meu plano antigo da Oi. Para continuar com minha gratidão, mantenha o mesmo preço para sempre. Agradeço.
3. Rapix(s)
A primeira vez que encontrei uma dessas foi tão curiosa quanto qualquer outra; porém, na segunda, terceira, quarta, quinta vez… digamos que fui perdendo o interesse.
Qualquer coletor de placas de — (Plaqueteiro? Plaqueter? Identificador? Coletor de Identidade? Coletor de Identificadores?) — qualquer Coletor de Identificadores (termo guarda-chuva que pode abranger até os coletores de placas de trânsito, coletores de etiquetas, coletores de placas de carro, coletores de CPFs, coletores de chips de celular…) deve ficar desapontado quando encontrar uma dessas na natureza, sendo exceção apenas se essa for a sua primeira plaqueta. Nesse caso, parabéns!



Não, essas imagens não são da mesma plaqueta. Compartilhe meu estresse.
Assim como em qualquer área em que se está rodeado pelo comum, em vez de nos chatearmos por completo, devemos melhorar como observadores, encontrando beleza nas menores diferenças.
A plaqueta mostrada na Figura 4 tem uma textura específica, um áspero idêntico aos copos de plástico velhos da casa da minha avó, trazidos pelas minhas tias que trabalhavam como professoras em escolas públicas. As rachaduras fazem parecer que essa está prestes a se despedaçar, claramente dobrada pelo estresse dos fios que a amarravam ao cabo que ela identificava. Mas ela permanece inteira: suas feridas são apenas visuais, cicatrizes marcantes para quem vê de fora — mas aquele que é íntimo sabe que são nada em comparação à sua força.

Um calango deve ter passado buscando o que comer, mordendo tudo a fim de encontrar algo que conseguisse quebrar com seus dentes. A Figura 5 mostra que nosso guerreirinho conseguiu. O plástico dessa é bem barato — vemos que a Rapix subiu seu nível contratando outra empresa.

4. Prefeitura Municipal de Maracanaú (?)
“Municipal” — que palavra linda — somada a “prefeitura”, que casal maravilhoso.
Eu não sabia que a prefeitura tinha seus próprios cabos ópticos (saber nada sobre fibra óptica ajuda). Faz bastante sentido! Ignorando a primeira palavra escrita na plaqueta, tem algo que grita “municipal” nessa placa. Sinto que me faltam palavras capazes de explicar: talvez o brasão enorme da guarda civil, a repetição de títulos, a sigla ao lado. Por favor?! O número do canal de emergência na plaqueta?! Seu material também cria uma estética singular.
Pais dizem que não têm filhos favoritos. Eu tenho.

5. Telebras
Telecomunicações Brasileiras S.A. Tanta possibilidade, tanta oportunidade para a plaqueta perfeita. Não gostei do material; não gostei do jeito que as áreas foram dispostas; a cor quase funciona; a tinta é péssima. Tentaram compensar tudo com o tamanho, mas ficou apenas estranho. Esperava muito mais… tão esquisitinha…
Tenho que levar em conta, positivamente, que os setores “cabo:” e “rota:” vazios me alegram.

Sobre Objetivos
Tem tanto que eu quero escrever sobre, tanto que me beneficiaria escrever sobre, tanto que eu aprenderia ao escrever sobre. Escrever por si só é uma habilidade que quero melhorar. Ler é um hábito que eu quero criar. Falando em línguas, eu também queria aprender algumas antes de morrer. Falando nisso, eu também…
Tantos objetivos. Fico nesse ciclo infinito de não fazer nada, pois estou planejando como vou fazer tudo, e “greve mental” (obrigado pelo termo) quando algo dá errado e desisto totalmente. Algo muito forte me impede de fazer o que eu quero fazer, sempre, e meus inimigos nunca são os mesmos: às vezes o tempo — 24 horas parecem tão poucas —, às vezes um compromisso que eu havia esquecido… sempre tem algo que põe em xeque todos os meus planos. Mas quem eu quero enganar? Como faltam horas no dia? Dias na semana? É tudo desculpa para não fazer o que eu quero. É medo? Se sim, medo de quê? Medo de errar? Medo de julgamento? Não faz sentido. É por falta de habilidade? É só ler o rodapé da página.
Eu vinha adiando tanto este post, assim como todos os outros posts e projetos. Já tentei diminuir a escala dos projetos — o problema não é a escala, sou eu. Eu não entro com os dois pés na porta. Desde pequeno, eu tenho medo de tropeçar. É só fazer; eu não sei o que impede. É só fazer. É só pegar e começar.
“Não espere ter habilidade para começar seu projeto. Seu projeto é que vai lhe ensinar a habilidade. Não espere ter confiança para começar a buscar o que deseja. A confiança vem quando você está fazendo e as coisas estão dando certo.”
Fazer coisas é uma habilidade em si. Fazer coisas difíceis parece uma variação, mas é só a habilidade real, sem sua casca. Se eu quero mudar alguma coisa, e eu sei que nada me impede, eu sei que todos os mil motivos para não fazer são falsos, equivocados. Eu querer fazer deve ser motivo suficiente para superar qualquer outro. Só não quero me prender na mesmice. Não se combate o medo de ser pequeno deixando de crescer.
O metrô também não ajuda: todos os horários na tabela são sonhos distantes… Quero dizer, talvez não hoje em dia? Já foi pior (muito pior)! Eu lembro muito bem que, nos primeiros semestres, o horário de chegada na faculdade não era certeza — e não estava sob meu controle, muito menos o de volta! Talvez seja por mudança na minha rotina ou por falta de chuvas, que destroem os vagões feitos de açúcar, leite e cacau. ↩︎
P.S.: Caso não fosse permitido eu coletar estas plaquetas, por favor, não entre em contato comigo. Não vou devolvê-las sem perspectiva de pagamento pelo resgate das plaquetas. ↩︎