O Fantasma do Natal Passado ¹

O controle é uma linha muito tênue. Perde-se aos poucos, desliza para longe dos seus dedos, volta aos seus braços com um puxão, para depois se perder novamente. Acordei finalmente do sono que tomou meu controle. O descanso e a felicidade, lado a lado; de ansiedade apenas o necessário. O chão: tapete vinho, roxo e vermelho; almofadado. As paredes próximas e protetoras continham a névoa. Existe hora perfeita pra tudo.

A interface que utilizamos para conversar uns com os outros é apertada. É um espaço que apenas podemos percorrer engatinhando: a porta é pequena; o túnel é pequeno; a saída também. Só olhar o tanto que você mesmo finge, o tanto que engana, seja pouco, seja muito. Se não engana, há quem engane; aqui estou eu de prova. Se engana, há quem engane menos; aqui estou eu de prova. Se enganamos ou não enganamos então o outro também engana e não engana.

Só podemos ver o que vemos, e o que não vemos nunca vamos ver.

O Fantasma do Natal Presente ²

A volta é totalmente diferente da saída. Todas as voltas são diferentes de todas as saídas, mas saída e volta sempre se diferem. A volta é o total oposto da saída: os vales e abismos viram abismos e vales. O frio da noite, com seus espaços, que de dia eram cheios de pessoas, agora livres de vida, calmos e aconchegantes. A parte de trás da parede grita, enquanto a fachada da manhã se calava.

A loja de roupas que antes parecia meio caminho, agora vira um marco quase invisível, quase indistinguível da partida. A marca nas costas da mão direita: a cédula, as asas; não existia na ida (vinda), mas existe na volta:

• Há quem me deva.
• Há quem me pague.
• Há quem eu deva.
• Já comeu aqui?
• Já morei aqui.
• Já vivi aqui.

Não há volta sem vinda nem vinda sem volta.

O Fantasma dos Natais Futuros ³

Havia mais o que falar, tinha tudo planejado, tudo anotado. “Você precisa aprender a seguir em frente mesmo sem certeza” é a nova frase da semana. É fácil se sentir inútil, se sentir parado. É fácil se sentir pequeno, se sentir vazio. Tudo é uma habilidade, tudo se pode aprender. A felicidade não é diferente.

A felicidade é uma habilidade; uma habilidade que exige técnica, construída com tentativa e erro: “Ainda vou fazer três coisas antes de dormir”. O medo é o botão de emergência da entropia; seus adversários não são moinhos de vento. São o amor, o conhecimento, a imprudência e o “passo de cada vez”. Sua paz é falsa, e ela teme essa verdade.

Sua destruição são: projetos pequenos, com inícios e fins; autoconsciência; beijos sem pressa.

O errado só é errado quando é errado; ao contrário, não é. O certo só é certo quando é certo; ao contrário, não é. E ficamos nessa, só resta, infelizmente, morder o osso e seguir em frente. Mesmo sem certeza.

P.S. Também tem outros nomes.⁴

P.S.S. Softstone.